A primeira proposta de exercício do curso foi: escolher uma página de um dos seus contos ou romances preferidos, transcrevê-la, vivê-la, reescrevê-la a partir do vivido. Leia abaixo uma dessas reescritas, realizada a partir de um trecho do conto “Kadosh”, de Hilda Hilst.

“[U]ma noite eu lia sobre as estruturas políticas, o corno das ditaduras no ventre dos humildes, a anatomia intrincada dos homens do Poder e pensei que uma palavra devia chegar aos homens, que era inútil ficar olhando para cima e para baixo te buscando e então sentei-me e escrevi durante dez noites a palavra amor, cem mil páginas, cem mil, coloquei o calhamaço num caixote com rodinhas, postei-me numa esquina e a todo aquele que passava eu entregava uma folha e dizia Amor Amém.”
HILST, Hilda. Kadosh. São Paulo: Globo, 2002.
Um dia acordou, respirou fundo sob a luz do sol que atravessava a janela, e se sentiu autorizada. Cansada de todos os ódios, escolheu nove cores, e com cada uma delas escreveu noventa e nove vezes a palavra amor (nove vezes por linha, onze linhas). Fotografou as nove páginas de amor amor amor amor amor amor amor amor amor. Postou as nove fotos no Instagram e no Facebook. E as enviou para todos os contatos do Whatsapp, incluindo os grupos da família, dos colegas de trabalho, das amigas sapas, das amigas hétero, das feministes, dos moradores da rua Francisco Eller para organização dos encanamentos de água, do clube de leitura, da capoeira, da mobilização política. Mandava as fotos e escrevia: amor amém. Recebeu de volta, entre muitos silêncios, algumas respostas curiosas: pra mim? que delícia – foi engano? – nova criação? – ficou de castigo na escola? – poema novo? – você que escreveu? – arrumou um amor e por isso amém? – clonaram seu celular? – posso mandar para outras pessoas? – hum? – não entendi – não sei se era pra mim mesmo, mas gostei – que não nos falte, nunca – que lindo!!! – amor amém sempre e todo dia! – o grupo é só para avisos urgentes e divulgação de coisas concretas – que coisa linda receber isso nessa terça corrida!
Quem não está inscrito no curso, mas quer embarcar na proposta e compor o coletivo de criação, basta acompanhar as postagens do blog e do instagram (@roteirosminimos) e fazer os exercícios propostos, enviando-nos para publicação.